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EE CARMINA GOMES DIALOGANDO SOBRE OS DESAFIOS DE APRENDIZAGEM DE ESTUDANTES KAYAPÓS, EM UMA ESCOLA NÃO INDÍGENA

23/10/2025 17h44 - Autor: Gleidson Monteiro | COEM 922 visualizações
Foto: EE CARMINA GOMES DIALOGANDO SOBRE OS DESAFIOS DE APRENDIZAGEM DE ESTUDANTES KAYAPÓS, EM UMA ESCOLA NÃO INDÍGENA
Registro oficial do evento.

O título deste artigo faz referência ao projeto realizado pela Escola Estadual Carmina Gomes, localizada na cidade de São Félix do Xingu, sob a jurisdição da DRE – Xinguara. Realizada em 10 de outubro de 2025, na sede municipal do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (SINTEPP), esta ação consistiu em uma mesa-redonda, onde estabeleceu-se um diálogo sobre “os desafios e soluções para garantir o direito a uma educação de qualidade, inclusiva e intercultural”, e uma oficina de debate. O evento reuniu membros de todos os grupos que compõem a comunidade escolar da unidade de ensino, mas também trouxe para esse diálogo outro importante grupo da sociedade civil: a Academia, com a participação de representantes docentes e discentes da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).

               Sendo uma escola com grande representação indígena em seu quadro discente, a Escola Carmina Gomes compreende a importância desse debate, que se faz necessário pois possibilita o reconhecimento e a valorização das diferentes identidades culturais presentes na comunidade escolar. A discussão permitiu aos presentes compartilhar experiências, expectativas e propostas voltadas para a construção de um ambiente educacional mais equitativo; além disso, reforçou a importância de práticas pedagógicas que respeitem a identidade, a cultura e os saberes tradicionais, fortalecendo, assim, a formação cidadã e o sentimento de pertencimento de todos os alunos.

               Pela manhã, como primeira atividade do dia, foi realizada a mesa-redonda com o tema “Desafios da Aprendizagem Indígena no Ensino Médio: Exposição e Diálogo com Professores do Ensino Médio”. Um momento de representatividade, com as boas-vindas na língua Mebêngôkre (Kayapó) e apresentação da cultura indígena por meio da dança, cheia de significados e histórias. Além disso, antes do início dos debates, foi realizada uma sessão com o documentário “Por que os alunos indígenas têm dificuldade em aprender em uma escola não indígena?”, onde são apresentadas mais informações sobre alunos indígenas na educação básica, dando mais embasamento teórico e estatístico para o debate. Alguns desafios foram evidenciados durante as falas realizadas. O coordenador pedagógico indígena Bepdjà Kayapó trouxe reflexões importantes sobre a convivência e o acolhimento dos estudantes indígenas no ambiente escolar, destacando a necessidade de fortalecer o respeito e a valorização das diferenças culturais no cotidiano da escola.Em seguida, a prof.ª Dr.ª Jane Guimarães Sousa (UNIFESSPA) ressaltou a relevância de promover uma integração mais efetiva entre estudantes indígenas e não indígenas, especialmente nas atividades em grupo. Compartilhou, ainda, a experiência positiva da Universidade, que tem incentivado a formação de grupos de estudo e pesquisa com diversidade étnica – uma prática que também poderia inspirar ações no ensino médio. O diálogo abordou também, de forma sensível, aspectos relacionados à barreira linguística, à assiduidade e permanência escolar e à necessidade de aproximar o currículo das realidades e saberes dos povos indígenas, reforçando o compromisso com uma educação verdadeiramente inclusiva e intercultural.                                                 

               Um fato é que as barreiras que dificultam o pleno funcionamento da inclusão dos alunos indígenas são diversas e estão profundamente enraizadas nas marcas deixadas pelo processo de colonização e pelos preconceitos historicamente construídos. Entre os principais desafios enfrentados, destaca-se a diferença linguística: muitos estudantes indígenas, ao ingressarem em instituições de ensino que não oferecem um estudo bilíngue, diferenciado ou adaptado, não dominam plenamente a língua portuguesa. Essa limitação gera um atrito entre os idiomas, constituindo uma barreira significativa na transmissão e assimilação do conhecimento entre professores e alunos.

               Na segunda etapa do evento, já à tarde, foi realizada uma oficina de debate, na qual o objetivo era provocar respostas aos desafios levantados nesse debate. A atividade consistiu na formação de alguns grupos de professores que, juntos, precisaram refletir a respeito do questionamento levantado e, a partir dessa reflexão, deveriam chegar a uma proposição e, então, socializar com os demais grupos. Desta oficina surgiram mais de uma dezena de propostas como:

  • Cursinho com aulas em Mebêngôkre;
  • Promover a inclusão de minorias por meio de materiais didáticos acessíveis, com tradução para línguas indígenas.
  • Inserir componentes curriculares e oficinas sobre línguas e culturas indígenas, favorecendo o aprendizado e reduzindo o preconceito desde as séries iniciais.
  • Desenvolver ações educativas sobre preconceito e inclusão, abordando causas históricas e sociais em disciplinas como História e Sociologia.
  • Projetos de oficina e de criação de aplicativos tradutores para aprender o Mebêngôkre;
  • Implementar monitoria especializada para acompanhar alunos, prevenir o bullying e auxiliar em dificuldades acadêmicas e emocionais.
  • Garantir participação de alunos indígenas em eventos acadêmicos, promovendo protagonismo e combatendo o capacitismo.
  • Criar um calendário escolar que considere festividades e eventos culturais indígenas, fortalecendo o vínculo entre escola e comunidade, com apoio psicológico e familiar aos alunos.
  • Realizar intercâmbios para que alunos não indígenas conheçam aldeias, promovendo conscientização e divulgação da realidade indígena.

               Algo a se comemorar é que esse evento já apresenta desdobramentos significativos para a escola. As estudantes Emily Sofia de Ananias Franco e Maria Luiza Alves Alencar produziram um artigo com o título “Introdução de Alunos Indígenas nas Instituições Educacionais”, no qual abordam exatamente o tema discutido no evento realizado pela escola, ou seja, as dificuldades enfrentadas pela comunidade indígena e as soluções para esses desafios. Outra iniciativa fruto do evento realizado é a identificação dos espaços escolares em língua portuguesa e em Mebêngôkre, promovendo a inclusão, valorizando a identidade e o sentimento de pertencimento no ambiente escolar. Os desafios são grandes; no entanto, é notória a busca por práticas inclusivas e pela efetiva integração das populações indígenas nas redes de ensino. No contexto municipal, observa-se, nos últimos anos, um avanço expressivo na ocupação de espaços formais por pessoas indígenas, seja em universidades ou em cargos de nível superior, o que representa um importante passo rumo à equidade educacional.

               Projetos deste tipo dão propósito ao processo de ensino e aprendizagem e, por este motivo, são incentivados na educação básica; são meios para uma formação humana e integral, que é o objetivo da Escola Estadual Carmina Gomes. Tal fato se confirma pelo que diz o professor Paulo Roberto da Silva Andrade, diretor da unidade, ao afirmar que, para a comunidade escolar atendida, o evento tem sua relevância por “marcar o início de uma nova fase em relação a educação indígena em nossa escola, mesmo nossa cidade sendo criada em meio a uma área indígena, este foi o primeiro evento desse porte realizado”. Em consonância, Bepdjà Kayapó, coordenador pedagógico indígena, exalta a iniciativa por “valorizar as identidades e culturas indígenas, que por muitas vezes são ignoradas ou apagadas no currículo tradicional”. Ainda segundo o coordenador, “esse projeto ajuda os alunos indígenas a se sentirem representados e respeitados no ambiente escolar”. Há um consenso na equipe da escola de que, com esta ação, haverá “melhoras significativas no aprendizado de todos alunos, indígenas e não indígenas” e, além disso, servirá de ponto de partida para “discutir outras pautas importantes para nossa comunidade”.

 

Autor: Gleidson Monteiro | COEM

Coautoras: Emily Sofia de Ananias Franco | EE Carmina Gomes

                  Maria Luiza Alves Alencar | EE Carmina Gomes


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